segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Ela só tem o ponta esquerda

Faz parte do treino
       Era uma manada de mariposas procurando a claridade dentro do quarto. Entraram, claro, porque durmo de janelas abertas. Isso durante o verão. Abri a porta do banheiro, acendi a luz e deixei que as boêmias fossem pra lá. Fui, no entanto, obrigado a usar meu ray-ban de pano pra conseguir dormir, porque a iluminação artificial me incomoda  o sono. O problema é que ele funciona como um blackout e impediu que a primeira luz da manhã me despertasse. Quando acordei já passava das sete horas. Desço e encontro o Casal Kona – Charles e Sylvia – devidamente equipados pra o pedal, já de barriga cheia. Geovanny tá de off. Tomo meu café com leite, arrumo a área de transição e subo na bike. A sapatilha já está presa ao pedal, que é pra me acostumar a calçá-la quando estiver pedalando. Manhã de sol e 22o  permite fazer o rolo na varanda.
 
Transição devidamente vigiada
          Não sei bem qual o motivo, mas o youtube indicou um vídeo do Silas Malafaia (leia-se Malacheia) pra eu assistir. O título “dou tiro pra matar” pareceu-me violento demais pra um início de semana e eu passo. Preferi a segunda opção. Nesta, Vinícius Santana, treinador da Ironguides, dava onze dicas para conquistar a tão sonhada vaga no mundial de ironman. Eu não sabia que tentar a vaga entre os meses de agosto e dezembro é um detalhe importante a ser considerado. Porque o mundial é em outubro e quem já pegou vaga não está mais em provas nesses meses. É um caso a ser pensado. Esse mesmo Vinícius mostrou como podemos melhorar nossas transições em provas. E pra fechar meu aquecimento no rolo, um pouco de humor com Jessier Quirino caiu bem. Nessa hora percebo meu nível de ignorância cultural. Que adianta ler Nietzsche, Hemingway e não conhecer Zé de cazuza? Logo eu, um nordestino dado a boa leitura? Tsic, tsic, tsic.
Aquecimento no rolo
         Depois de 45’pedalando no rolo, pulo da bike e calço os tênis. Ainda bem que o treino é a hora em que podemos errar. É que eu havia pego o mesmo pisante que fiz o treino de quarta passada. E quando encerrei o tiroteio - o treino de tiro, mô filho – entrei no riacho com ele nos pés. Ou seja, estava cheio de areia. Sair pra correr com areia dentro do tênis é pedir pra ferir os pés. Perco tempo tendo que limpar o calçado. Resmungo pra mim mesmo que todo material deve ser checado antes dos treinos pra que vire hábito e facilite minhas provas.

         A planilha indicava que minha corrida de hoje era com alguma inclinação. Pra isso, saio do asfalto e entro por uma estrada de encosta e sigo subindo a montanha até o fim da estrada, onde mora a senhorinha do ponta esquerda. Explico, explico. Certa vez, precisando de uma faxineira, fui orientado a seguir por essa estrada até o fim. Chegaria a casa de uma mulher que fazia faxina, como garantiu um amigo. Pego a moto e vou até lá. Após algum bater de palmas, sai pela portinhola uma sexagenária. Cumprimento-a e pergunto se ela é a pessoa que faz faxina. Ela diz que sim, e nessa hora vejo que só tem o ponta esquerda. Perdeu os outros dentes ao longo dos anos – provavelmente pelo alto consumo de açúcar e carboidrato. Ela se dispõe a ir à minha casa, mas só se minha mulher estivesse. “Porque o meu marido tem ciúme de mim”, argumentou. Pensei comigo mesmo: ‘Gile, tu tá mal pra caramba’.
 
Charles me ensinando a usar a bola de pilates - esse sabe o que diz

         A patrola estava trabalhando na estrada e o terreno era pura pedra solta. E vi que cometera outros dois erros. Correr sem meia e com tênis de drop zero nesse tipo de terreno é o fim. As pedras pareciam que furariam meus pés. A areia que entrava a cada passada incomodava também. Estando a mais de dois meses sem fazer treino na montanha, senti bastante o retorno. Mesmo sem ter sido com tanta inclinação assim. Chego em casa e encontro o Casal Kona se preparando pra ir embora. Retardo em alguns minutos o banho no riacho – que faz parte do treino, vale lembrar – e pego algumas dicas de exercícios na bola de pilates com o Charles. O cara não é fraco. Sabe tudo de fisioterapia. Finda a aula particular,  é hora de crioterapia e hidromassagem. Ah, uma manga e uma laranja foi meu pós-treino. Depois, preparamos uma salada e comemos com frango e aipim fritos. Por volta das 15h, outra seção de crioterapia e hidromassagem. No lanche, coco com pasta de amendoim integral. O restante da tarde tiro pra descansar. Pão de queijo caseiro acompanhado de uma xícara de leite com café está ótimo pra quem vai dormir. Amanhã tem pedal forte e natação mais forte ainda. 

Resumo do treino
Distância : 12k
Tempo: 1h08’
 Pace: 5’41”/km
Ganho de elevação: 430m

3 comentários:

  1. Nada como ser um jornalista para escrever um texto de treino com enredo de história! Tô adorando, Gile! 👏🏻👏🏻👏🏻 Ótimos treinos!

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    1. Hahaha. Vlw, Beta. Ah, adotei mais uma cadelinha que estava pra ser sacrificada.

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    2. Nossa! Tadinha! Que ótimo que ela teve a segunda chance e tirou na "mega sena" 👏🏻👏🏻👏🏻 Qual nome?

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