A recomendação do Roberto Lemos foi clara: “Faz um
pedal contemplativo, Gile”. Pra quem está treinando visando o Iroman, um treino
como o de hoje seria obrigatoriamente um longo de, ao menos, 120km. No meu
caso, sendo obrigado a readequar os treinamentos, não poderia passar de duas
horas na magrela. Então, melhor mesmo é pedalar no quintal de casa. E as
vantagens são imensas: não precisa levar equipamento reserva, não corre risco
de voltar com pneu cortado e nem precisa acordar cedinho. Tanto é que comecei a
pedalar por volta das 10h, com o termômetro indicando 240. Bastou colocar
a bike dentro da Kombathlon e descer 1,5km de morro até o Circuito de Santa
Isabel. A última vez que eu havia pedalado na estrada foi no dia doze, em
Garopaba. De lá pra cá, três giros leves no rolo. Hoje seria para, acima de
tudo, matar a vontade de pedalar ao ar livre, de cara pra o vento. Mas sem
fazer muita força. Contemplativo, como orientou mestre Rob.
Uma festa na Igreja Luterana, que fica bem no meio do
circuito, atraiu gente de tudo que é lugar e fez o treino ficar mais leve
ainda. Não tinha como passar rápido em meio às pessoas que se amontoavam nas
proximidades do templo. Não consegui evitar que meus pensamentos pululassem na
minha cachola. A comunidade de Santa Isabel, com dez ou quinze casas, tem dois
templos – um Luterano e o outro católico. Pra que serve a religião, Gile? Se ela
não nos transforma em seres humanos um pouquinho mais evoluídos, então para que
serve? O Brasil tá cheio de religiosos, credos crenças e crendices. E somos
atolados em corrupção, lambuzados por contravenção e desonestos. Um povo
incapaz de respeitar leis de trânsito básicas, ávidos por destruir a natureza e
prontos a ignorar o mais simples código de ética e de conduta. Ano passado, a
prefeitura colocou placas de sinalização orientando aos motoristas para que
tivessem cuidado com o ciclista. Um morador foi lá e arrancou as placas. E ninguém
cobrou dele. E num lugarejo, todo mundo sabe da vida de todo mundo. Ou seja: o cara foi acobertado. Cometeu o crime e passou impune. A religião não serve pra frear os
impulsos primitivos de pessoas desse quilate? Então, gente boa, pra mim essa
religião não vale nada. Deixei, então, que os religiosos se esbaldassem nas
suas práticas e continuei meu pedal de domingo.
Passados pouco mais de trinta minutos, a chuva começou a
castigar o circuito. Não era chuva forte, mas aquela de melecar toda a bike e o
pedalante. E não caía em todo circuito, mas em algumas partes dele. Quando o
Garmim indicou 50km de treino, encostei a bike na Kombathlon e dei por
encerrada minha batalha. Aos poucos o corpo vai se reencontrando. Que venha o
amanhã com seu desafio, então.
Resumo do treino
Distância: 50,9km
Tempo: 1h48'
Vm: 28,1km/h
Ganho de elevação: 363m
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