terça-feira, 30 de maio de 2017

É Ironman, mô filho

Vestindo a camisa de finisher

Querido diário... Hahaha. Esse poderia ser o último post deste blog, que surgiu com a necessidade que senti de escrever como seria minha preparação para o Ironman Brasil 2017. Levando em conta apenas os meses de janeiro a maio deste ano. Não será o último, entretanto. Não serei tão assíduo, mas espero deixar este espaço para que outros triatletas possam compartilhar mais de seus treinamentos. Dito isso, vamos aos fatos. Vamos ao relato de como foi minha prova. Quando dizem que o triathlon é o esporte do mimimi, estão mais do que corretos. Porque numa preparação pra uma prova de Ironman surgem muitos percalços. E quando nos perguntam como está sendo, ou como foram os treinos, não dá pra esconder as dificuldades. Elas são, assim, chamadas de mimimi. Nade 3,8km, pedale 180km, corra 42km e depois diga como se sente. Aí a gente conversa. Claro que muitos triatletas exageram no biquinho, mas como diz o poeta: “o dono da dor sabe quanto dói”.

De janeiro até o dia 28 de maio foi uma longa estrada. Muitos acertos, alguns erros e intenso aprendizado. Em nenhum momento dos treinos me senti sobrecarregado . A alimentação natural, sem fazer uso de suplementos, me deixou sempre muito vigoroso. Em março, porém, tive uma Zoster que me impediu de treinar. No dia dois de maio, pra complicar mais ainda, meu sogro foi hospitalizado e tive que deixar o CT na serra pra ficar de vez em Floripa. Porque precisávamos estar mais próximos do hospital onde ele até hoje está internado. A zoster quase impediu que eu fizesse o Iron, a vinda pra Florianópolis alterou em muito minha rotina de treinos. Como foi o Iron? Vamos lá, então. Acordei ao som do despertador. Comi um prato de cuscuz com ovos e fomos pra o P-12. Esqueci as caramanholas dentro do carro e foi uma correria pra pegar as danadinhas antes que a área de transição fosse fechada. Eram três caramanholas. Em uma delas tinha câmara de ar reserva, bomba e jogo de chaves. em outra tinha quatro pães de queijo pra eu comer quando enjoasse dos géis. Na terceira tinha uns pedaços de doce de leite e cocadas. Esta última perdi logo no início do pedal, infelizmente. Mas era dispensável. A primeira era equipamento emergencial e torci pra não precisar dele, e graças a Deus não precisei. Dos quatro pães de queijo, comi dois. E o que comi durante a prova? Vou contando a medida que falar das etapas da prova.

A largada foi feita por ondas. As categorias entravam no mar separadas por cinco minutos de intervalo. A minha foi às 7h25. Fiz uma natação moderada, procurando fazer uma boa navegação e respirando a cada três braçadas. Precisei conter a emoção de estar ali. Aqui, acolá, tinha que bater as pernas com mais rapidez pra afastar aqueles que tentavam pegar carona nos meus pés. Saí da água muito inteiro. Fiquei um pouco confuso na hora de pegar o material da bike. Deu tudo certo, contudo.

Taí a prova dos nove

Tomei um gel e saí pra pedalar. O início do pedal foi muito tumultuado, e um dos motivos que agravavam a situação era a chuva. Por isso, não fui pra o clip até chegar à SC-401. Presenciei alguns tombos, e a coisa piorou quando uma competidora bateu na lateral de minha roda traseira e tomou um capote. Se eu estivesse clipado teria caído também. Fui conservador durante todo o percurso, sempre saindo do clip ao ultrapassar em pontos alagados. Durante os 180km tomei quatro géis, comi dois pães de queijo, bebi gatorade que peguei nos postos de hidratação, e também nesses postos bebi água. Não parei a bike em nenhum momento. Para as próximas provas vou precisar me acostumar a comer mais. Ao entregar a bike, corrigi o chip que carregava no tornozelo, esvaziei a bexiga – acho que tinha 38 litros no tanque, porque demorou, viu – e tentei me achar em meio às sacolas de pertences que se amontoavam nos cabides. Um colega menos atento colocou o material dele sobre o meu e dificultou um pouco minha transição. Não foi problema a demora. Aproveitei pra descansar mais um pouco e saí pra corrida.

Comecei tranquilo, cuidando pra controlar a euforia e não me deixar levar pelos gritos da torcida. Decidi que não caminharia em nenhum momento da maratona, a não ser nos postos de hidratação. Nos três primeiros, aproveitei pra comer bisnaguinhas. Levei alguns géis, mas não senti necessidade de botar pra dentro. Preciso me adaptar a consumir essas tranqueiras pra melhorar meu desempenho. No quilômetro dez, uma forte dor no tendão da perna direita me obrigou a parar. Eu havia sentido um desconforto nesse mesmo tendão dez dias antes. Temi por minha prova, mas segui numa caminhada pisando com o calcanhar e não flexionando a perna. Três ou quatro quilômetros depois, a dor começou a diminuir e pude fazer uma pisada com o meio do pé. No quilômetro vinte a dor cessou por completo e voltei a pisar normalmente. O velho tênis sem palmilha, com um leve rasgão provocado pelos dentes da minha cadela Feiona e comprado na feira do Ironman de 2015 respondeu bem ao esforço a que foi submetido. Eu parava num posto de hidratação e tomava Pepsi, pulava o posto seguinte e parava no outro. Fiz assim até o fim da maratona. Em todo momento procurei manter a postura correta. Quando entrei na Búzios para os últimos dois quilômetros minha perna tava ótima. Dava até pra esprintar. O grito da galera era energizante. Quando entrei no funil que leva ao pórtico de chegada a emoção foi quase indescritível. Cruzar a linha foi uma sensação que tenho dúvidas de sentido algo do tipo em minha vida.

Algumas vozes no alto da arquibancada chamavam meu nome. Olhe pra cima e em meio a chuva distingui minha esposa Denise, meu amigo Igor Saporitti e sua esposa Karlinha com o filho Nathan nos braços. Simplesmente demais. Quando é que tem outro? Hahaha. Em termos de alimentação, então, consumi quatro géis, dois pães de queijos e cerca de oito bisnaguinhas. Na hidratação tomei gatorade, um meio litro de água e Pepsi, muita Pepsi. No dia seguinte, depois de chegar da festa de premiação, meu tornozelo direito inchou, mas já está desinchando. Algumas dores nas coxas também apareceram, mas bem suportáveis. Agora é assimilar a pancadaria e recomeçar os treinamentos.


Quero aqui agradecer o apoio de algumas pessoas. Primeiramente, a minha esposa Denise. Aos meus grandes incentivadores que me deram muita força, principalmente quando fiquei doente – Pina e Roberto Lemos. Aos companheiros de treino, que destaco Michel Bruggeman e Sandro Gaynet. Não vou repetir o Pina aqui. Hahaha. Durante a prova, muitos incentivaram chamando meu nome e destaco alguns. Primeiro, um grupo que fazia uma verdadeira fuzarca quando eu passava – era o pessoal da Just, a equipe onde comecei no triathlon. Uma galera da GPA, sob o comando do meu amigo e treinador Gustavo Pinto, também não me deixava sem apoio. Tinha também uma galera da New Pace que não perdia a chance de dar seus gritinhos de “vai Gilê”. A Time também estava lá pra incentivar seus atletas e me apoiavam também. Por último a turma da Iromind, que apesar de não ser tão efusiva, tinha no meu treinador Roberto Lemos uma garganta sadia o bastante pra não me deixar passar sem ouvir meu nome. Agradeço também aos amigos que me acompanharam pela internet durante toda a fase de preparação. Lembrei, juro, de vocês durante a prova. Essa conquista é nossa. See You.

Resumo da prova





Bike
Métricas da natação



Métricas da natação

Métricas da bike

Corrida

Métricas da corrida


4 comentários:

  1. Parabéns novamente Gile!
    Esse negócio não é pra qualquer um não!
    Mas.....
    "Quando é que tem outro?"
    ��

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Hahaha. Mais uma vez, obrigado, amigo. Mas, assim, como vc vem acompanhando, basta treinar.

      Excluir
    2. Hahaha. Mais uma vez, obrigado, amigo. Mas, assim, como vc vem acompanhando, basta treinar.

      Excluir