Faz parte do treino |
Era uma
manada de mariposas procurando a claridade dentro do quarto. Entraram, claro,
porque durmo de janelas abertas. Isso durante o verão. Abri a porta do
banheiro, acendi a luz e deixei que as boêmias fossem pra lá. Fui, no entanto,
obrigado a usar meu ray-ban de pano pra conseguir dormir, porque a iluminação
artificial me incomoda o sono. O
problema é que ele funciona como um blackout e impediu que a primeira luz da
manhã me despertasse. Quando acordei já passava das sete horas. Desço e
encontro o Casal Kona – Charles e Sylvia – devidamente equipados pra o pedal, já
de barriga cheia. Geovanny tá de off. Tomo meu café com leite, arrumo a área de
transição e subo na bike. A sapatilha já está presa ao pedal, que é pra me
acostumar a calçá-la quando estiver pedalando. Manhã de sol e 22o permite fazer o rolo na varanda.
Não sei bem
qual o motivo, mas o youtube indicou um vídeo do Silas Malafaia (leia-se
Malacheia) pra eu assistir. O título “dou tiro pra matar” pareceu-me violento
demais pra um início de semana e eu passo. Preferi a segunda opção. Nesta,
Vinícius Santana, treinador da Ironguides, dava onze dicas para conquistar a
tão sonhada vaga no mundial de ironman. Eu não sabia que tentar a vaga entre os
meses de agosto e dezembro é um detalhe importante a ser considerado. Porque o
mundial é em outubro e quem já pegou vaga não está mais em provas nesses meses.
É um caso a ser pensado. Esse mesmo Vinícius mostrou como podemos melhorar
nossas transições em provas. E pra fechar meu aquecimento no rolo, um pouco de
humor com Jessier Quirino caiu bem. Nessa hora percebo meu nível de ignorância cultural.
Que adianta ler Nietzsche, Hemingway e não conhecer Zé de cazuza? Logo eu, um
nordestino dado a boa leitura? Tsic, tsic, tsic.
Aquecimento no rolo |
Depois de 45’pedalando
no rolo, pulo da bike e calço os tênis. Ainda bem que o treino é a hora em que
podemos errar. É que eu havia pego o mesmo pisante que fiz o treino de quarta
passada. E quando encerrei o tiroteio - o treino de tiro, mô filho – entrei no
riacho com ele nos pés. Ou seja, estava cheio de areia. Sair pra correr com
areia dentro do tênis é pedir pra ferir os pés. Perco tempo tendo que limpar o
calçado. Resmungo pra mim mesmo que todo material deve ser checado antes dos
treinos pra que vire hábito e facilite minhas provas.
A planilha
indicava que minha corrida de hoje era com alguma inclinação. Pra isso, saio do
asfalto e entro por uma estrada de encosta e sigo subindo a montanha até o fim
da estrada, onde mora a senhorinha do ponta esquerda. Explico, explico. Certa
vez, precisando de uma faxineira, fui orientado a seguir por essa estrada até o
fim. Chegaria a casa de uma mulher que fazia faxina, como garantiu um amigo.
Pego a moto e vou até lá. Após algum bater de palmas, sai pela portinhola uma
sexagenária. Cumprimento-a e pergunto se ela é a pessoa que faz faxina. Ela diz
que sim, e nessa hora vejo que só tem o ponta esquerda. Perdeu os outros dentes
ao longo dos anos – provavelmente pelo alto consumo de açúcar e carboidrato.
Ela se dispõe a ir à minha casa, mas só se minha mulher estivesse. “Porque o meu
marido tem ciúme de mim”, argumentou. Pensei comigo mesmo: ‘Gile, tu tá mal pra
caramba’.
A patrola
estava trabalhando na estrada e o terreno era pura pedra solta. E vi que
cometera outros dois erros. Correr sem meia e com tênis de drop zero nesse tipo
de terreno é o fim. As pedras pareciam que furariam meus pés. A areia que entrava
a cada passada incomodava também. Estando a mais de dois meses sem fazer treino
na montanha, senti bastante o retorno. Mesmo sem ter sido com tanta inclinação
assim. Chego em casa e encontro o Casal Kona se preparando pra ir embora.
Retardo em alguns minutos o banho no riacho – que faz parte do treino, vale
lembrar – e pego algumas dicas de exercícios na bola de pilates com o Charles. O
cara não é fraco. Sabe tudo de fisioterapia. Finda a aula particular, é hora de crioterapia e hidromassagem. Ah, uma
manga e uma laranja foi meu pós-treino. Depois, preparamos uma salada e comemos
com frango e aipim fritos. Por volta das 15h, outra seção de crioterapia e
hidromassagem. No lanche, coco com pasta de amendoim integral. O restante da
tarde tiro pra descansar. Pão de queijo caseiro acompanhado de uma xícara de
leite com café está ótimo pra quem vai dormir. Amanhã tem pedal forte e natação
mais forte ainda.
Resumo do treino
Distância : 12k
Tempo: 1h08’
Pace: 5’41”/km
Ganho de elevação: 430m
Nada como ser um jornalista para escrever um texto de treino com enredo de história! Tô adorando, Gile! 👏🏻👏🏻👏🏻 Ótimos treinos!
ResponderExcluirHahaha. Vlw, Beta. Ah, adotei mais uma cadelinha que estava pra ser sacrificada.
ExcluirNossa! Tadinha! Que ótimo que ela teve a segunda chance e tirou na "mega sena" 👏🏻👏🏻👏🏻 Qual nome?
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