Quando parei a Kombathlon em frente ao posto Serra Mar, as
nuvens de chuva ainda relutavam em abandonar as montanhas que iríamos subir em
direção a São Bonifácio. O estacionamento não estava loteado por triatletas e
ciclistas como no domingo passado. A chuva da noite, da madrugada e das seis
horas espantou um punhado de gente. Só os mais focados, mais persistentes e
otimistas ousaram sair de suas casas e cumprir o que suas planilhas mandavam.
Se não tiver muito foco, basta um meio quilo de chuva pra dissuadir quem sai de
casa num domingo pra treinar. Se não for persistente, basta um contratempo pra
fazê-lo continuar nos braços de Morfeu na madrugada dominical. Se não for
otimista, terá certeza que um dilúvio poderá matá-lo afogado na estrada ou
derrapará numa curva traiçoeira que o espera na descida da serra. Os que foram
se divertiam enquanto tiravam as bikes dos carros e vestiam a armadura de
combate. Porque, vou te contar, treino de montanha é uma peleia e tanto. Como
diz a indiada gaúcha, entretanto, “não tá morto quem peleia”.
Assim como nos domingos anteriores, várias assessorias se
faziam representar no sinuoso e inclinado asfalto. Quase todos pedalantes
partiram do posto. Nem todos adotam a linha do “quanto mais misturado melhor”,
e encontrei na subida alguns que parecem ter entendido a lição da Dona Florinda
– “não se junte com essa gentalha”. Um amigo por quem passei tentou justificar
os isolados. ‘Nada justifica a divisão, meu caro’, argumentei. Então ele me
confidenciou: “foi por isso que saí da xxxx”. E disse o nome da equipe em que treinava
antes de vir pra Iromind. O problema de estarmos afastados uns dos outros é
que, quando acontece um desastre, somos chamados a nos unirmos, mas não estamos
acostumados ao calor do próximo. Aí, mô filho, continuaremos sendo poucos e
desunidos.
Nos primeiros quilômetros, alcanço Rodolfo e vamos no mesmo
ritmo, fazendo força e botando a conversa em dia. Numa depressão na pista, que
o governo insiste em deixar lá prejudicando quem passa, minha caramanhola com
água e gengibre resolve me abandonar. Eu não havia dado um gole, sequer.
Rodolfo oferece um pouco da que levava, mas a sede ainda não me incomodava. Voltando
de São Bonifácio, encontramos o coach Roberto Lemos que nos convida a retornar
à cidade pra alongar mais o pedal. Agora somos três no mesmo ritmo. Numa subida,
passamos um grupo que deixava pedaços de pulmão no caminho. Reconheço um dos triatletas
e digo que estou sem água. Era o Guto, parceiraço da Just. Ele pega uma
caramanhola cheia e me entrega. “Pode ficar, Gile, vou encher a outra na bica,
tá pertinho”. Quanto mais misturado, mió, gente boa. Valeu, Guto.
Guto, Euzinho e Gui com sua Pureza |
Uma caramanhola de água foi o suficiente pra eu garantir os
100km do dia. No quilômetro oitenta comi as duas bananas que levava no bolso da
camisa. Foi, digamos, meu café da manhã. Quando cheguei em casa ainda comi um
mamão antes de almoçar.
Vencido os cem quilômetros, reencontro Guto no posto. Em
seguida chega seu treinador, Guilherme Cunha. Guto saca uma garrafa de dois
litros de Pureza e entrega ao Gui, que num golaço quase some com todo o refrigerante.
E aí solta um arroto que mais parece um hipopótamo raivoso. Justifica, porém: “o
problema do refri é o gás, por isso fiz isso”. Hahaha. Já no CT, tomo um banho
no riacho gelado e subo pra o almoço.
É hora do almoço |
Carne com capa de gordura era bem o que
eu precisava. Verdura é o complemento ideal. De sobremesa, uma xícara de café
com leite. A chuva que insistiu em cair por toda a tarde deu-nos a opção de
assistir um filme. No lanche, queijo com pasta de amendoim e pedaços de coco.
Mais tarde, um pãozinho de queijo, minha iguaria favorita. Caso dê fome mais
tarde, uma sopa estará me esperando. Amanhã começa uma semana de treinos mais
leves, de assimilação. Bora?
Resumo do treino
Distância: 100,3km
Tempo: 3h37’
Vm: 27,6
Ganho de elevação: 1.447m
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